_Que seu remédio seja seu alimento e seu alimento seja seu remédio#

TRANSFORMAÇÕES DAS PLANTAS MEDICINAIS

 Para alcançar sua ação medicinal, uma planta deve ser tratada de tal forma que se obtenham produtos derivados com ação específica. Com uma mesma planta, ou com a mesma parte da planta, pode-se preparar diversos derivados levando-se em consideração:
– O modo de preparação
– As propriedades físicas
– As características organolépticas
– A concentração dos princípios ativos
– As propriedades farmacológicas
– Sua finalidade

As diferentes formas de apresentação dos derivados das plantas medicinais podem classificar-se da seguinte forma:

a) Produtos obtidos por tratamentos mecânicos
– Plantas empregadas in natura
– Pós vegetais
– Polpas
– Produtos líquidos obtidos por expressão (suco fresco da planta)

b) Produtos obtidos por ação do calor
– Por destilação
– Óleos essências
– Águas destiladas
– Alcoolatos

c) Produtos obtidos utilizando a ação de um solvente
⦁ Álcool → Alcoóleos
– tinturas
– tinturas mães
– alcoolaturas
– suco fresco da planta

⦁ Água → hidróleos
– tisanas
– infusos
– decoctos

⦁ Solução açucarada
– sacaróleos
– xaropes
– melitos

⦁ Solventes diversos
– vinhos
– cervejas
– vinagres
– óleos
– propilenoglicol
– glicerina

d) Produtos obtidos por concentração das soluções extrativas:
– Extratos fluídos
– extratos moles
– extratos secos

fitoterapia 3

Os vegetais na forma de pó possuem uma grande aplicação no arsenal terapêutico, podendo ser incorporados facilmente às formas galênicas secas como cápsulas e comprimidos. Possuem também grande importância como matéria prima para a preparação de outras formas galênicas.
Após a eliminação dos corpos estranhos e das partes inertes, as ervas devem ser secas a uma temperatura de 25ºC a 45ºC
As ervas são trituradas em moinhos de diversos modelos e peneiradas, tendo então a sua granulometria padronizada.
Sendo todas estas operações realizadas de maneira correta, não havendo diferenças notáveis nas diversas partes da erva, mesmo apresentando texturas diferentes.
As vantagens de utilizar os vegetais na forma de pó são diversas, como: administração da droga relativamente segura, ajuste ou eventual concentração do princípio ativo e manipulação simples, possibilitando misturas.

Os óleos essenciais são compostos aromáticos, geralmente voláteis, retirados dos vegetais, onde são encontrados pré-formados ou na forma combinada. São extraídos por destilação, por expressão ou por extração por solventes.
Os medicamentos magistrais à base de óleos essenciais variam com as propriedades químicas e físicas, em particular a solubilidade. Com um excipiente alcoólico ou oleoso, se trabalha por simples dissolução.
Uma técnica nova de microencapsulação dos óleos vegetais permite a utilização dos óleos essenciais sob a forma de pó acondicionado em cápsulas. Com excipientes não graxos pode-se utilizar externamente, na forma de géis ou emulsionados com emulsionantes não iônicos, que fornecem emulsões estáveis.
Os óleos essenciais, nas suas diferentes apresentações, são muito utilizados na perfumaria e também na aromaterapia.

Frequentemente, produtos secundários à preparação dos óleos essenciais, as águas destiladas, também conhecidas por hidrolatos, possuem grande quantidade de princípios voláteis como ácidos, aldeídos e aminas. São preparados por simples destilação com vapor de água, e plantas frescas ou secas.
As plantas rasuradas são maceradas por horas com uma quantidade relativamente grande de água e depois destiladas. A destilação é suspensa quando se obtém uma quantidade para razoável de destilado. O excesso de essência é separado por decantação ou filtração.
Para preparação do hidrolato são utilizadas de preferência as plantas frescas. O Códex preconiza, por exemplo, para a água de hortelã a utilização de 1.000 g de planta fresca ou 200 g de planta seca para obter 1.000 g de hidrolato. Os hidrolatos de plantas aromáticas contêm geralmente de 0,05 a 0,20 g de óleo essencial por litro.
A conservação dos hidrolatos é delicada, pois contaminam-se com facilidade.
Os hidrolatos são utilizados, por suas propriedades aromáticas, para a preparação de xaropes; e em cosmetologia, por suas propriedades adstringentes, calmantes e antipruriginosas, sob a forma de loções e cremes.

Os alcoolatos são preparados pela maceração com álcool das plantas frescas seguida por uma destilação.
Atualmente a denominação alcoolato foi substituída no Códex por soluções alcoólicas de essências ou tinturas de essências. Foram mantidos, porém, alguns nomes como o alcoolato de Garus, base do elixir de Garus e o alcoolato de Fiorovanti.
O alcoolato de mirtilo, por exemplo é preparado da seguinte forma:
– Macera-se por 24 horas 2.000 g de mirtilo fresco mais 1.000 g de álcool a 70%
– Destila-se e recolhe-se 1.000 g de alcoolato.

Os alcoóleos são preparações líquidas resultantes da ação dissolvente do álcool, empregado em quantidade determinada a um título definido sobre as matérias vegetais.
O título do álcool utilizado estará na função dos princípios ativos a dissolver ou da textura do material a tratar.
Em fito-aromaterapia utilizam-se as tinturas, as tinturas-mãe e as alcoolaturas.

As tinturas vegetais são preparadas à temperatura ambiente pela ação do álcool, sobre uma erva seca, (tintura simples) ou sobre uma mistura de ervas (tintura composta). São preparadas por solução simples, maceração ou percolação.
A tintura simples corresponde a 1/5 do seu peso em erva seca, quer dizer que 200 g de erva seca permitem preparar 1.000 g de tintura. Na maioria das vezes se utiliza um álcool a 60º G.L.
Existem algumas exceções, como as tinturas de materiais resinosos como tolú, ou drogas ricas em essências ou resinas m boldo, canela, eucalipto, grindélia, ou ricas em mucilagens como casca de laranja amarga, onde o título do álcool é de 80º G.L.
As drogas muito ativas muito ativas (heroicas) como o acônito e a beladona são preparadas por percolação com álcool 70º G.L.
As tinturas de ópio e noz-vômica são preparadas por simples dissolução do extrato correspondente em um álcool a 70º G.L. obtendo-se um título final de aproximadamente 10% de planta seca.

As tinturas-mãe são definidas como preparações líquidas resultantes da ação dissolvente de um veículo alcoólico sobre drogas de origem vegetal ou animal.
As tinturas-mãe de drogas vegetais são obtidas pela maceração em álcool de diferentes títulos, da planta fresca, da planta fresca estabilizada ou, raramente, da planta seca. Correspondem a 1/10 de seu peso em droga desidratada, com algumas exceções como a calêndula e o mirtilo que correspondem ad 1/20
O título alcoólico das tinturas-mãe são geralmente são geralmente de 45 = 5º GL como é o caso da camomila e da aveia, ou de 65º = 5, como é o caso da calêndula e da noz-vômica.
Para a preparação das tinturas-mãe devem ser observadas alguns cuidados na hora da colheita, levando-se em consideração a parte da planta a ser utilizada. Por exemplo, no caso das folhas, deve-se colher após o seu desenvolvimento, antes da floração. As tinturas-mãe são mais utilizadas como forma galênica, na homeopatia.

As alcoolaturas são obtidas pela ação do álcool sobre drogas frescas que não perdem a sua atividade.
Na alcoolatura, são empregadas partes iguais em peso de planta fresca e de álcool a um título elevado para evitar uma diluição elevada pela água liberada pela planta.
O modo de preparação é muito simples, basta macerar por 8 dias a droga fresca rasurada em um recipiente fechado, com álcool, fazer uma expressão e logo após uma filtração.

O suco da planta fresca é a suspensão da planta com seus constituintes ativos e inativos, em álcool a 30º G.L.. Por diversos processos modernos, são estabilizados, inativando as enzimas e evitando uma degradação rápida dos princípios ativos.
Esta forma nova de apresentação das plantas permite a utilização de todo o fitocomplexo da planta fresca sem a perda de nenhum princípio ativo.

Os hidróleos são derivados obtidos pela dissolução em água de uma substância medicamentosa. Os hidróleos são conhecidos pela população pelo nome de tisanas, e são obtidos por infusão, decocção ou maceração.

A infusão é preparada jogando-se água fervente sobre as partes ativas do vegetal, geralmente folhas ou as flores. É o modo tradicional de preparar o chá. Deve-se deixar as plantas dentro da água por 5 a 10 minutos, e depois filtrar. A quantidade de erva varia segundo a espécie, sendo normalmente de 5 g para cada 100 ml de água.

Na decocção, geralmente coloca-se a erva em água fria, que, em seguida, se aquece até a ebulição num recipiente fechado, deixando ferver por alguns minutos.

É uma preparação líquida que requer longa imersão. Põe-se a planta em água fria, cobre-se o recipiente e deixa-se repousar em lugar fresco por alguns minutos.

Os extratos glicólicos são obtidos por processo de maceração ou percolação de uma erva em um solvente hidro-glicólico, podendo ser este o propilenoglicol ou uma glicerina. Estes extratos normalmente são utilizados nos fitocosméticos. A relação erva/solvente varia, sendo que normalmente se utiliza a relação indicada para as tinturas vegetais.

Segundo a farmacopeia Brasileira, os extratos fluidos são preparações, obtidas de drogas vegetais manipuladas de forma que 1.000 g de extrato contenham o equivalente 1.000 g de erva seca. Por não terem sofrido ação do calor, seus princípios ativos são exatamente os mesmos encontrados nos fármacos respectivos.
Os extratos fluidos apresentam uma relação ponderal simples entre a droga e extrato, o que facilita a posologia e a prescrição.

1g de extrato fluido equivale a:
– 1g de droga seca
– 5g de tintura ou alcoolatura
– 10g de tintura-mãe
– 50g de xarope

Os extratos moles são soluções extrativas que possuem consistência de mel, que, quando dessecados a 105º C perdem entre 15 a 20% de água.

Os extratos secos ou pulvurentos se apresentam sob a forma de pó e perdem de 5 a 8% de água.
Os extratos secos podem ser facilmente manipulados, apesar de muito higroscópicos.
A posologia é a mesma dos extratos moles. São conservados em recipientes herméticos e ao abrigo da luz.
Os extratos secos obtidos por atomização são conhecidos também por nebulizantes.
O princípio da nebulização consiste dispersar a solução extrativa a dessecar em minúsculas gotículas sob uma corrente de ar quente. As gotículas são secas instantaneamente e transformadas em um pó finíssimo. Os fenômenos de oxidação e desnaturação pelo calor são reduzidos ao mínimo.
Os nebulizantes se apresentam sob a forma de pó, aromático e de coloração mais clara que o extrato seco correspondente. No microscópio se apresenta como minúsculos glóbulos de aspecto esponjoso e irregulares. O volume específico aparente é muito elevado. Os nebulizantes, a grosso modo, substituem peso por peso os extratos semi-sólidos. A água residual destes é substituída por adjuvantes como acrosil, amido celulose modificada e outros.
Atualmente os extratos secos na forma de nebulizantes são amplamente utilizados, e os laboratórios farmacêuticos procuram desenvolver vários tipos de extratos com os seus princípios ativos titulados.

Veja também: